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Quando o choro diz mais


Sem querer ser polêmica, vou dizer algo aqui que talvez soe meio atravessado para os papais de plantão, mas quando o bebê nasce ele é praticamente um corpinho cheio de instinto. Alguns pesquisadores costumam denomina-lo infante, ou seja, aquele que ainda não diz. No sentido de que sua existência na cultura depende exclusivamente dos outros. Por exemplo, ao nascer e nos primeiros meses de vida do bebê, o choro é um recurso que garante sua integridade física, pois é o único modo de garantir que seus cuidadores saibam que algo não vai bem e possa providenciar o conforto necessário.
Mas engana-se quem pensa que por nascer tão indefeso, o bebê típico é um ser despreparado. Ao contrário, ele detém toda a estrutura cognitiva necessária para, assim que inserido no seio de uma família, se desenvolver integralmente. O choro, nosso assunto do momento, que inicialmente era um código quase que indecifrável do que não ia bem com o bebê, em poucas semanas se transforma qualitativamente. Vai tomando forma e vira uma melodia bem turbulenta que comunica muito claramente para os pais qual o problema que deve ser solucionado. Sendo que para cada mal-estar, o bebê tece uma sinfonia muito específica de notas desafinadas.
A partir desse ponto de vista, considera-se o choro como uma função comunicativa. Pouco elaborada, exatamente por ser um dos primeiros recursos comunicativos de que dispõe o bebê. A medida que o bebê se desenvolve, aumenta sua habilidade de usar outros recursos e naturalmente a frequência do choro diminui. Apesar disso, ele nunca desaparecerá e com o passar dos meses, se transformará qualitativamente e estará cada vez mais carregado de significados.
Quando observamos bebês a partir dos seis meses brincando com seus irmãos, percebemos que o choro sempre funciona como um modo de comunicar que ele quer um brinquedo ou algo que está em posse do outro. É um modo de dizer: eu quero isso! Ele só irá parar de chorar se o que deseja lhe for entregue ou se for distraído. A atenção neste período da vida é voltada para o ambiente imediato. Ou seja, o bebê ainda não tem condições cognitivas de se lembrar de algo que não esteja vendo. Então, podemos dizer que até mais ou menos os 12 meses, um bebê irá sim chorar para fins de conquistar algo que queira, fazendo o que os estudiosos da linguagem chamam de solicitação imperativa: “eu quero, então me dá!”.
Entre 9 e 12 meses de idade o bebê começará a desenvolver o conceito de intencionalidade. No sentido de que compreende que além de agir de determinada forma, para que o outro faça o que ele quer, ele também pode fazer algo para agradar o outro. Ele descobre que todas as pessoas, inclusive ele próprio tem intenções e agem para realiza-las. Quando bebê internalizar esse conceito, por volta dos 12 meses, você notará o surgimento da manha e da birra. É um comportamento muito frequente em crianças pequenas, que ainda não dispõe de recursos mais elaborados para negociar o que querem. De qualquer forma, o choro, apesar de menos frequente em fases posteriores, será sempre um grande trunfo do indivíduo para impelir o outro a agir no sentido de solucionar algo urgente ou mesmo algo que se queira pelo simples desejo.
Pois é papais, quanto mais o bebê avança no sentido de se apropriar da cultura humana, mas ele compreende como se relacionar com o outro para agradar, compartilhar e solicitar. Esse movimento é encantador por natureza, mas nem por isso deixa de ser desafiador. Quanto mais seu bebê conhece os limites na relação que estabelece com cada membro da família, mais ele terá condições de negociá-los ele terá. Isso implica num desenvolvimento cognitivo e linguístico tremendos. A questão é que, o que eles querem nem sempre é possível ou seguro. Quando isso acontecer, primeiro respire fundo e pense: “meu bebê já sabe bem o que quer” Sinta-se grato por isso, pois ele está se desenvolvendo bem. Dito isso, aja conforme a situação permita. Se o que ele deseja é possível de ser realizado, permita e se divirta com ele. Se não for, explique o motivo pelo qual não é possível realizar o que ele quer. Quando você explica algo para seu bebê, você naturalmente está ensinando para ele que existe outras formas menos turbulentas, estressantes e mais elaboradas de indicar o que se quer. Invista na comunicação com seu filho em toda as fases da vida dele. Crianças que se comunicam bem serão adultos mais aptos a se destacarem em qualquer atividade que desejem realizar.

APRENDER É DIVERTIDO!

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