Creio que não seja novidade para ninguém que, a cada trimestre da gestação, os fetos adquirem mais um “tijolinho” na construção do seu potencial humano. É amplamente sabido que todas as substâncias ingeridas pela gestante afetam positiva ou negativamente o desenvolvimento do feto — especialmente no primeiro trimestre. Mas você sabe exatamente por quê? Bem, porque, nessa fase, o bebê ainda é apenas uma célula. Por isso, é tecnicamente considerado um embrião, com o potencial de se transformar em um bebê. Ainda que, para os pais, desde a concepção ele já seja um bebê — e isso é maravilhoso!
Você pode se perguntar: “Mas se ele é só uma célula, por que os efeitos de algo nocivo são tão drásticos?” E aí está justamente o ponto. Essa única célula é a base da formação de todo o bebê. Qualquer erro genético ocorrido no DNA dessa célula inicial pode desencadear uma cascata de erros, afetando todas as demais células do embrião.
Mas vamos considerar que, nessa primeira fase da vida, tudo transcorreu bem, e o embrião já se tornou uma pequena porção composta por milhares de células. Sim, isso acontece bem rápido! Só para se ter uma ideia, na terceira semana gestacional ele já inicia o desenvolvimento do sistema nervoso. Essa fase é chamada de neurulação e é a base para a formação de uma complexa rede que permitirá ao bebê aprender tudo o que precisará para se tornar o ser humano incrível que todos os pais sonham. E essa estrutura é tão sofisticada que só estará completamente formada por volta dos 21 anos de idade!
De um aglomerado de células, ao fim do primeiro trimestre o embrião adquire o status de feto e já está praticamente formado. Quando me apresentaram esses marcos do desenvolvimento fetal pela primeira vez, lá no segundo ano da graduação em Fonoaudiologia, fiquei surpresa ao perceber que tão cedo na gestação o bebê já estava praticamente completo. Foi nesse momento que me dei conta de duas questões.
Não sei se você já ouviu falar da regra de Pareto, também conhecida como princípio 80-20, mas ela afirma que 80% das consequências derivam de 20% das causas. Esse princípio foi desenvolvido por Vilfredo Pareto, um economista e sociólogo italiano, ao observar que a distribuição de renda não era uniforme. Pois bem, resolvi aplicar uma simples regra de três e percebi que, justamente quando o embrião se torna feto, ele já tem a aparência de um bebê — ou seja, o alicerce da construção humana acontece em apenas 20% do tempo gestacional. É intrigante pensar que um princípio da sociologia e economia pode ser aplicado também ao desenvolvimento da vida humana.
A outra questão que me ocorreu — e que talvez esteja passando pela sua cabeça agora — é: se o bebê já está praticamente pronto em 20% do tempo, por que esperar os outros 80% no útero para nascer? Não poderia vir ao mundo antes? Voltei, então, aos marcos do desenvolvimento e encontrei dados que me chamaram bastante atenção:
- Na 14ª semana gestacional, o feto começa a treinar movimentos respiratórios;
- Na 15ª semana, realiza todos os movimentos corporais, equivalentes aos de um bebê de 9 meses;
- Na 16ª semana, aumenta a frequência desses movimentos para ganhar massa óssea e muscular;
- Entre a 16ª e 18ª semanas, começa a fazer caretas, levantar sobrancelhas e coçar a cabeça;
- Da 21ª à 24ª semana, há amadurecimento do sistema nervoso auditivo. Neste momento, o bebê, além de ouvir, pode reconhecer a voz materna;
- Na 24ª semana, surge o reflexo de GAG, uma proteção das vias aéreas semelhante a uma ânsia;
- Entre as 27ª e 28ª semanas, surgem movimentos com a língua como o suckling, movimentos transversais, sucção com pausas longas e o reflexo de mordida — todos eles preparatórios para a amamentação. Além disso, o bebê já é capaz de sonhar!
- No entanto, seus pulmões ainda não estão totalmente desenvolvidos.
- Entre a 31ª e 34ª semanas, o bebê já distingue várias vozes e demonstra preferência por certos estilos musicais.
- Nas últimas semanas da gestação, os pulmões amadurecem completamente para possibilitar a respiração fora do útero, o cérebro ganha uma quantidade significativa de conexões nervosas, e o corpo do bebê está pronto para o nascimento. Ele já treinou diversas funções essenciais para a vida extrauterina. Agora, só precisa se posicionar adequadamente para o grande momento: conhecer seus pais ansiosos.
Ufa, são muitas aquisições! Aqui, destaquei apenas as mais marcantes, que reforçam a ideia de que esses 80% do tempo que o bebê permanece no útero, já praticamente formado em termos estruturais, são fundamentais para seu amadurecimento. Nesse período, ele irá desenvolver cada partezinha do seu corpo e praticar todas as habilidades que precisará dominar ao nascer. Amadurecer significa também ganhar novas conexões nervosas no cérebro. Aquele ganho de peso nas últimas semanas de gestação? É massa encefálica! Ou seja, a cada semana que passa no útero, o bebê tem a chance de ganhar “quilinhos” de cérebro e aprimorar todas as demais estruturas do seu corpinho. Um bebê que permanece mais tempo no útero nasce, sem dúvida, mais preparado em todos os sentidos para enfrentar o mundo.
Ora, se todo o desenvolvimento fetal ocorre no sentido de prepará-lo organicamente para a vida fora do útero, por que seria uma perda de tempo prepará-lo também para a carga cultural que encontrará no mundo humano? Quando conversamos, cantamos, contamos histórias ou ouvimos música com o bebê ainda no útero, ele já é capaz de captar muitos aspectos da nossa cultura. E quanto mais desenvolvido ele estiver, mais condições terá de integrar essas sensações e responder com movimentos ou acalmando-se.
Sempre que interagimos com o bebê, seja no útero ou já nos braços, estamos oferecendo a ele amostras gentis da nossa cultura. Oferecer esse carinho é simples, gratuito, fortalece o vínculo entre pais/cuidadores e bebê, e ainda estimula a inteligência e o desenvolvimento da linguagem. Só há benefícios.
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